quarta-feira, 26 de julho de 2017

Até o errado está certo quando serve aos propósitos de Deus

Conta-se que Miguel, quando contendia com o diabo acerca do corpo de Moisés, não ousou amaldiçoá-lo, mas disse apenas : “o Senhor te repreenda” (Judas 1:9). O arcanjo fez isso por reconhecer o papel de adversário que Deus havia dado àquele, de modo que não cabia a Miguel proferir qualquer sentença contra ele. Esta passagem nos ajuda a perceber o fato de que Deus permite certos tipos dentro das igrejas e não nos dá autoridade para repeli-los.



Judas Iscariotes, por exemplo, foi “o homem certo para fazer a coisa errada na hora certa”. Ele era um carnal que seguia a Jesus pensando se tratar de um “líder revolucionário” que libertaria Israel do Império Romano. Estava contado com os 12, todavia não era um dos 12. A ele haviam sido confiados os valores que as pessoas ofertavam, contudo era ladrão (João 12:6). Jesus o escolhera para ser uma amostra literal do errado servindo a um propósito divino no meio dos certos. Alguém tinha de trair a Jesus para que as profecias se cumprissem, e Judas era o homem que, através do seu mau caráter e da sua espiritualidade rasteira, havia se constituído no mais apto ao papel histórico de traidor.

Jesus ainda nos ensinou de forma simbólica acerca do mau que cresce junto ao bom (Mateus 13:24-30). O joio foi plantado por um inimigo, mas Deus permitiu isto. Joio e trigo estão na Igreja, porém não podemos tirar a erva daninha, para que não ocorra de arrancarmos o trigo junto com ela. Este é um claro ensinamento sobre os limites da justiça humana, que é relativa, e não absoluta como a de Deus. No ímpeto de “limparmos a igreja”, podemos acabar matando alguns bons, perdendo assim almas preciosas para Aquele que morreu por elas. Deus tanto faz o bem quanto permite o mal com uma finalidade justa, e em ambos os casos Ele está correto.

De forma semelhante, nos dias de hoje Deus consente que determinados indivíduos exerçam o papel de “pedras de tropeço”: são pessoas más, ocupam posições influentes e estão cravadas no meio do nosso caminho, forçando-nos a ter fé, paciência e humildade. Se quisermos enfrentá-las, pior para nós, pois Deus as permitiu ali para aquele propósito; se, por causa da dureza do coração delas negarmos a fé, o prejuízo será nosso também. Portanto, só nos resta perseverar naquilo em que temos crido e prosseguirmos para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação (Filipenses 3:14), desviando-nos delas como a obstáculos a serem evitados por todos aqueles que correm com paciência a carreira que lhes foi proposta (Hebreus 12:1).

A grande lição que aprendemos é que existem coisas espirituais que estão muito além do nosso entendimento, e que por isso mesmo não são assunto nosso. Se “colocarmos a nossa mão”, acabaremos estragando o arranjo divino que parece falho aos nossos olhos, mas que do ponto de vista de Deus é perfeitamente funcional: cumpre a função à qual se destina.