quarta-feira, 2 de agosto de 2017

A igreja dos irmãos mais velhos

Uma das mais famosas parábolas de Jesus é a “parábola do filho pródigo” (Lucas 15:11-32). Ela conta a história de um jovem que saiu da casa de seu pai e, após ter gasto tudo o que tinha em devassidões, acabou sem ter nem o que comer. Arrependido, ele decidiu se dirigir ao lar paternal na esperança de ser recebido como um mero empregado. Porém, quando ainda estava a uma certa distância da casa, o pai, movido de íntima compaixão, correu ao seu encontro, abraçou-o e o beijou. Para completar, ordenou que se pusesse nele um anel, boas roupas e calçados nos pés, e que além disso se preparasse um banquete de comemoração.



Todavia, quem não gostou de nada disso foi o enciumado irmão mais velho, que nunca tinha saído de casa e que, portanto, cheio de arrogância e de justiça própria, irou-se muito com a atitude do pai em receber de volta seu irmão mais novo. Diante desta situação, o pai lhe disse: tu nunca saíste da minha casa, e tudo o que é meu é teu, mas o teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado, era necessário que nos alegrássemos pelo seu retorno.

A reflexão que eu desejo fazer com você, que me lê neste momento, é sobre a forma como nós, enquanto Igreja, temos recebido os filhos pródigos do nosso Deus. Será que temos agido segundo o amor do Pai, ou conforme o egoísmo do irmão mais velho? Ficamos alegres pela volta de um pecador arrependido, ou sentimos uma ira supostamente “santa” ao ver sentado ao nosso lado alguém que julgamos não ser mais merecedor de estar ali? Temos nos lembrado de que a casa é do Pai e que, assim sendo, Ele recebe quem Ele quer, ou a bondade de Deus tem ardido como pimenta em nossos olhos maus?

Apesar de muito haver pecado, o filho mais novo tomou a atitude de voltar para a casa paterna. E esta atitude de maneira nenhuma foi menosprezada pelo pai, que o recebeu com um amor imenso. Deus dá extremo valor a uma alma arrependida que o busca! Felizes os que se arrependem e encontram o perdão. E só não se arrepende e encontra o perdão quem tem o coração tão endurecido pelo orgulho e a consciência tão cauterizada pelo seu autoengano que já não é mais capaz de reconhecer seus erros e se humilhar aos pés do Pai para ser perdoado.

O pródigo desejava estar na casa do pai como um simples trabalhador, pois julgava ter perdido a filiação com ele. Todavia, o pai o recebeu como seu legítimo filho e honrou-o, colocando novamente o anel da família em seu dedo e o vestindo com dignidade. Temos recepcionado os filhos pródigos como a entes queridos que não víamos há muito tempo, ou temos olhado-os com ar de superioridade farisaica e reservado a eles o lugar menos nobre nas congregações?

Lamentavelmente, na maioria das vezes temos agido como uma autêntica “igreja dos irmãos mais velhos”, fazendo acepção de pessoas, julgando, humilhando os que voltam, e, sobretudo, usurpando o lugar do Pai no que diz respeito a decidir quem pode ser aceito e quem não. No caso dos aceitos, gostamos de decidir que posição na “hierarquia” da casa eles podem ocupar.

Que Deus tenha misericórdia em primeiro lugar daqueles que, imaginando estar seguros e de pé, na verdade encontram-se a um passo do terrível abismo do orgulho, crendo-se superiores a outros por nunca terem saído da casa do Pai. Porque muito mais próximo está do amor de Deus um filho pródigo arrependido do que um irmão mais velho cego pela sua justiça própria.

“Portanto, eu lhe digo, os muitos pecados dela lhe foram perdoados, pelo que ela amou muito. Mas aquele a quem pouco foi perdoado, pouco ama." (Lucas 7:47)