segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Um contraponto a algumas das “95 teses” propostas ao evangelicalismo brasileiro

Por ocasião do aniversário da Reforma Protestante, um texto intitulado “95 teses para serem fixadas na porta do Evangelicalismo Brasileiro” vem fazendo sucesso nas redes sociais. Apesar de não concordarmos com muita coisa nele, o texto traz várias verdades que realmente ainda precisam ser melhor compreendidas por grande parte dos evangélicos. Por este motivo, nós procuraremos refutar aqui 13 pontos dos quais discordamos, porém, deixaremos o link do texto original para que os leitores sejam beneficiados por aquilo que julgarem edificante.



Passamos a expor nossos pontos de vista, respeitando a numeração do texto em apreço.

9 – “VOCÊ NÃO ESCOLHE CRISTO” – RESPOSTA: Não há dúvidas de que Deus nos amou (1 João 4:19) e nos escolheu (Efésios 1:4) PRIMEIRO. Contudo, depois que nos damos conta do Seu amor por nós, precisamos também amá-LO e recebê-LO em nosso ser: “eis que estou à porta e bato. SE ALGUÉM OUVIR A MINHA VOZ E ABRIR A PORTA, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Apocalipse 3:20). Quando Jesus diz: “vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto...” (João 15:16), o que Ele quer dizer senão isso: que Ele nos escolheu primeiro? E como, pois, daremos frutos se não atendermos ao seu chamado? Portanto, Deus nos escolheu primeiro, porém cabe a nós aceitamos ou rejeitarmos essa escolha.

13 – “ARREBATAMENTO SERÁ DEPOIS DA TRIBULAÇÃO” - RESPOSTA: Existem várias interpretações quanto a estes futuros acontecimento, sendo que a opinião do autor é apenas uma dentre elas.

27 – “ARMINIANISMO LIMITA A SOBERANIA DE DEUS”  - RESPOSTA: O Arminianismo nada mais é do que o modo como os cristãos sempre costumaram compreender o Evangelho (e a maioria continua a compreendê-lo até hoje). Arminianismo chega a ser um nome supérfluo, pois na verdade ele é apenas o Cristianismo "default" (padrão). Se bem compreendido, ele preserva o caráter amoroso de Deus e não limita a sua soberania, apenas não transforma esta soberania em tirania, como fazem alguns...

29 – “DEUS ODEIA O PECADO E TAMBÉM O PECADOR” - RESPOSTA: Deus é amor (1 João 4:16) e manifestou o seu amor para conosco enviando seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos (1 João 4:9), para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16). Onde está o “ódio” de Deus nisto pelos pecadores?

30 – “DEUS SALVA QUEM QUER” – RESPOSTA: Pois é, Deus é mesmo soberano. Entretanto, a sua soberania não é como a dos homens, ou seja, tirânica, e sim repleta de amor. Quando Calvino fala sobre a "soberania de Deus", ele revela muito mais o seu próprio caráter do que o caráter de Deus, uma espécie de “o que eu mesmo faria se tivesse todo o poder de Deus?”...

40 – “LEIA LIVROS REFORMADOS” - RESPOSTA: Examinai TUDO. Retende o bem (1 Tessalonicenses 5:21). TUDO, e não apenas literatura que diga coisas com as quais nós já concordamos.

47 – “SATANÁS NÃO ERA ANJO DE LUZ” - RESPOSTA: A compreensão teológica mais aceita é a de que em algum momento satanás foi um anjo de luz que, possuído por orgulho, pretendeu ser igual a Deus. Jesus, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus (Filipenses 2:6). Já satanás, não sendo Deus, quis ser como Ele, para reinar em Seu lugar, mas acabou sendo expulso por Deus do Céu e tornou-se uma antítese de si mesmo.

59 – “NÃO TEMOS LIVRE ARBÍTRIO” – RESPOSTA: É mesmo?! “Eis que estou à porta e bato. SE ALGUÉM OUVIR A MINHA VOZ E ABRIR A PORTA, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Apocalipse 3:20); “todo o que o Pai me dá virá a mim; e O QUE VEM A MIM de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6:37); Adão e Eva fizeram suas escolhas e pagaram por isso; no passado, Deus escolheu a Israel, mas aquele povo também precisou escolher obedecer a Deus; o Evangelho conclama os pecadores a escolherem crer e se arrependerem (Mateus 3:2; 4:17, Marcos 16:15-16, Atos 3:19, 1 João 3:23). Como, pois, podemos ser chamados a crer e nos arrepender se não formos capazes de decidir fazer isso?

71 – “JUDAS NÃO ESCOLHEU TRAIR JESUS, JÁ ESTAVA PREDESTINADO” – RESPOSTA: Certo é que alguém precisava cumprir o papel de traidor, assim como alguns farão o papel de “filhos da perdição” (João 17:12). Todavia, isto não significa que determinados indivíduos tenham sido criados especificamente para cumprir esta missão inglória. Em sua onisciência, Deus sabe que alguns usarão a sua liberdade para o mal, mas Ele não determina que alguém siga este caminho. Judas era o homem certo para fazer a coisa errada na hora certa. Ele era ladrão (João 12:6) e seguia a Jesus como se Ele fosse um mero líder revolucionário, por assim dizer. Judas se fez apto a exercer o papel que poderia ter sido de qualquer um, e não necessariamente dele. De 12 discípulos que Jesus escolheu, um o traiu, outro o negou três vezes (Pedro) e outro não creu na sua ressurreição (Tomé). Judas era um homem como outro qualquer, não pairava sobre ele qualquer espécie de "decreto divino" para que ele fosse o traidor.

80 – “DEUS NÃO É SÓ AMOR” - RESPOSTA: Deus é amor, mas também é justiça. Ocorre que o ápice da justiça é a misericórdia, de modo que, mesmo sendo justo, Deus sempre continua sendo Amor.

82 – “NUNCA DÊ OUVIDO A ALGUÉM QUE DIZ: DEUS MANDOU TE DIZER” - RESPOSTA: Deus pode perfeitamente usar de alguém para falar algo a uma pessoa nestes termos. O  que é preciso é saber discernir os espíritos e ter conhecimento da Palavra para saber se a mensagem vem de Deus ou não. Qualquer profecia que contrarie o Evangelho é falsa.

83 – “UM SALVO NÃO PERDE A SALVAÇÃO” - RESPOSTA: Usando seu livre-arbítrio, qualquer pessoa pode decidir rejeitar o amor de Deus e morrer no pecado, perdendo assim a salvação. Não se trata da brincadeira do “escreve/apaga o nome do Livro da Vida” cada vez que o sujeito peca ou se arrepende dos seus pecados, mas do fato de que é realmente preciso vencer (Apocalipse 2:7; 3:5; 3:21; 21:7), combater o bom combate, acabar a carreira e guardar a fé (2 Timóteo 4:7).

86 – “DOM DE LÍNGUAS ERA IDIOMAS” - RESPOSTA: Há controvérsias... Existem duas possibilidades fenomenológicas a esse respeito: (1) eram idiomas humanos que o Espírito Santo concedia que aqueles apóstolos com pouca instrução falassem e fossem compreendidos pelos falantes de cada uma daquelas respectivas línguas e/ou (2) eram linguagens espirituais (“estranhas”) mas que por obra divina estavam soando aos ouvidos dos presentes como sendo seus próprios idiomas pátrios. Não há como simplesmente afirmar se foi um caso ou outro ou ainda os dois simultaneamente.

Texto original: 95 teses para serem fixadas na porta do Evangelicalismo Brasileiro